13 de maio de 2006

Jodorowsky - Gênio Multimídia


Você pode nunca ter ouvido falar em Alejandro Jodorowsky, mas com certeza, se assistiu aos cultuados Alien, Blade Runner e Guerra nas Estrelas, já tomou contato com seu universo. Essas séries foram inspiradas em conceitos criados pelo autor chileno.

Nascido em 1929, na cidade de Ibique, Jodorowsky já fez de quase tudo no mundo das inovações artísticas. Teatrólogo, diretor de cinema e teatro, produtor, compositor, escritor, ator, filósofo, humorista, especialista em tarot, um dos criadores do Teatro do Pânico, espiritualista, Jodorowsky é também nos quadrinhos um criador extraordinário e um fabuloso visionário que edifica universos inteiros na criação de cada história.

Emigrou para a França no começo da década de 60 atraído pela escola de teatro do famoso mímico Marcel Marceau, de quem foi aluno durante algum tempo. No entanto, sua carreira só foi deslanchar de verdade quando, no começo dos anos 70, lançou o cult-movie El Topo, um sucesso do underground que até hoje é exibido em cinematecas ao redor do mundo. Outros filmes se sucederam, com destaque para Fando y Lis, The Holy Mountain e Santa Sangre. Os quatro, considerados seus melhores, foram recentemente lançados em DVD (na França). São inéditos no Brasil.

A saga futurista Anibal 5, de 1966, foi sua iniciação nos quadrinhos. A série, desenvolvida quando o escritor vivia no México, mostra, a despeito da arte convencional do desenhista Manuel Moro, um universo inovador, entre o fantástico e a ficção científica, povoado por estranhas criaturas. Por outro lado, Fabulas Panicas revela já o caráter mais espiritual e filosófico da obra do autor. Nesse trabalho de 1967, em que Jodorowsky é desenhista, argumentista e colorista, o autor caricatura-se como protagonista e desenvolve grandes conversas e trocas de impressões com um "Mestre" quase-divino. Porém, foi somente em 1980, com o ciclo As Aventuras de John Difool (O Incal), feito em parceria com o mito Moebius, que Alejandro alcançou a devida notoriedade. O Incal revolucionou a abordagem da ficção científica no mercado franco-belga.

A saga de O Incal surgiu como resposta a uma rejeição. Jodorowsky e Moebius haviam, poucos anos antes, começado a trabalhar conjuntamente no projeto da adaptação cinematográfica de Dune, de Frank Herbert (obra-prima da ficção científica, transposta para as telas tempos depois por David Linch). Alejandro desenvolvera um roteiro que pouco ou nada tinha a ver com o original. Além da fantástica direção de arte de Moebius, o filme contaria ainda com o tresloucado Salvador Dali em um dos papéis principais. Os produtores americanos, porém, não aceitaram as idéias “excêntricas” da dupla para a trama e inviabilizaram o projeto. Isso não impediu, contudo, que alguns conceitos criados pelo chileno fossem usados em filmes que vieram a ser marcos do cinema hollywoodiano (aqueles que citei logo no início da matéria).

A obra de Jodorowsky é caracterizada por um profundo misticismo e por tramas subjetivas e complexas, uma espécie de quadrinho new-age. “Quando comecei minha carreira esse era exatamente meu objetivo: usar os quadrinhos para discutir coisas mais sérias e profundas. Eu domino vários tipos diferentes de arte. Em cada uma delas eu procuro atingir um nível mais elevado de consciência”, afirmou Jodorowsky em entrevista a um site especializado. “Quadrinhos são uma forma de Arte. Qualquer arte oferece infinitas maneiras de se expressar. Não existem artes idiotas e sim artistas idiotas”. Amém.

Alejandro Jodorowsky é também escritor. Acaba de chegar ao Brasil Quando Teresa Brigou com Deus (Editora Planeta, 376 págs., R$48). A partir de uma frase de outro artista multimídia (o “papa do surrealismo”, Jean Cocteau), “Cada pássaro canta melhor na sua árvore genealógica”, o autor traça um perfil da longa saga dos judeus da Europa Central para a América Latina, do ponto de vista de sua família. O eterno problema da posição dos judeus perseguidos e humilhados diante do Deus que jurou protegê-los, tema profundamente marcado na alma e na literatura judaicas, encontra em Jodorowsky um momento de ímpar conciliação entre poesia e humor. É preciso lê-lo. É preciso ler Jodorowsky. Sempre.

Diego Calazans
http://www.rnufs.ufs.br/rede/radio/

3 comentários:

VictorVanBasten disse...
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VictorVanBasten disse...
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VictorVanBasten disse...

conhece algum forum em q discutam filmes orientais,jodorowsky,etc?